Reaprendendo andar sem rodinhas


Quando eu era pequenina, alguém que amo muito se jogou em frente à bicicleta para me salvar de uma queda. Já andava sozinha, sem rodinhas, mas me vi em perigo e meu pai se machucou para me manter em segurança, pois fiquei sem freios e estava indo em direção a um barranco, a queda era certa e seria bem feia.
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Hoje, adulta, volto à infância e solicito nova proteção, me amparando no amor que tive lá trás enquanto crescia, para poder recobrar o equilíbrio perdido.
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Ainda sinto o olhar afetuoso e preocupado de meus pais que observam minha travessia, tão minha somente, mas estão sempre por perto, tão perto, que ouço seus corações enquanto me abraçam e secam as lágrimas que derramo nas horas mais difíceis.
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Sim, tive sorte!
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Tive sorte, muita sorte, de nascer num lar cheio de amor (ainda que imperfeito), mas, ao olhar para minha base tenho forças para recomeçar do zero, a partir daqui. Por mais difícil que seja, tenho sustentação.
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Recomeçar sem a força de vocês não seria possível. Ainda se jogam por mim, para eu não me machucar (em vão agora e lamentam por isso), mas sinto suas mãos em minhas costas a me empurrar: “vai filha, estou olhando de longe, você consegue!”.
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Lamentaram não poder evitar a queda, nem as feridas, porém, prontamente prestaram socorro e amaram como nunca, na tentativa de sarar a dor. Mas, sabe de uma coisa? Algumas dores só passam com o tempo...Esperemos ele passar, está passando, está passando...
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Para mim, a vida é como andar de bicicleta, precisamos de equilíbrio para caminhar. Quando não conseguimos nos equilibrar sozinhos, podemos* voltar à infância e pedir para colocar as rodinhas de novo, até que possamos devagarinho, no nosso tempo, ir tirando cada uma delas novamente. E é bom poder contar com a força de quem amamos nesses momentos.
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Ana Paixão, reaprendendo andar sem rodinhas
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*Obs: sei que nem todos possuem sorte igual. Sinto muito (de verdade) por aqueles que não possuem um abrigo amoroso para voltar quando precisam. Não há lugar melhor para recompor as forças.Não há!

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